5 de out. de 2014

O valioso tempo dos maduros (Mario de Andrade)


> Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a
> frente do que já vivi até agora.
> Tenho muito mais passado do que futuro.
> Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
> As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
> poucas, rói o caroço.
> Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
> Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
> Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
> cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
> Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
> assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
> Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
> idade cronológica, são imaturos.
> Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de
> secretário-geral do coral.
> 'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
> Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
> minha alma tem pressa...
> Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
> muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
> triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua
> mortalidade,
> Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
> O essencial faz a vida valer a pena.
> E para mim, basta o essencial!
>
> Mário de Andrade






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